“Are you blind when you’re born? Can you see in the dark? (…) Because Jellicles are and Jellicles do (…) Are you tense when you sense there’s a storm in the air? (…) Jellicles do and Jellicles can (…)1”
Dois raios de luz rasgam a lixeira escurecida quando se ouve um carro a passar por perto. Uma inocente queen amarela e negra, Demeter, que sorrateiramente entrava na lixeira é apanhada de surpresa e, assustada, pára... bufa... e esgueira-se para fora do alcance das luzes, encolhendo-se de medo.
Quando o carro se afasta, sons musicais recomeçam suavemente. Um gato cinzento malhado, Munkustrap, aparece seguido por uma gata com ar exótico, Cassandra, que assume uma posição que lembra as esfinges egípcias. Lá de cima espreita um gato cenourinha, Skimbleshanks, e Carbuckety desce um espaldar. Chegou a vez de Coricopat e Tantomile (gémeos idênticos, intuitivos e portadores de poderes psíquicos), extremamente ágeis que, em perfeita coordenação de movimentos, juntam-se aos seus amigos. Astuto e sedutor, Rum Tum Tugger esgueira-se entre as barras enquanto Demeter deixa, finalmente, o seu esconderijo...
Vagarosamente, Munkustrap gatinha até próximo dos gémeos e ergue-se para cantar a primeira pergunta do musical: “És cego à nascença?” De início (qual gato que se preze!), mostram-se desconfiados e relutantes, mas à medida que ficam mais destemidos, cantam e dançam garbosamente: é uma trova sobre quem são e sobre as suas façanhas onde acabam por nos dar um vislumbre das suas origens e, assim, ficamos a conhecer o verdadeiro eu de cada um dos gatos Jelicais. Em poucos segundos, o palco enche-se de 26 gatos que aparecem aquando da sua deixa ou então em grupos, cantando as suas questões retóricas até chegarem à conclusão “Se estavas [com os faraós] e se és [esbelto como um lince], então és um Gato Jelical!”.
Mas sobrepõe-se um problema maior: algumas pessoas são simplesmente... hmmm distraídas? Depois de toda aquela apresentação e revelações, como é possível ainda haver alguém que não tenha compreendido? Um tom novito (Aspargus) arrasta-se até à frente do palco e aponta para um infeliz... logo-logo a atenção de toda a tribo é atraída para este azarado. Todos o olham incredulos: “Será que estes olhos veem mesmo alguém que nunca tenha ouvido falar de um gato Jelical?”
“O que é um gato Jelical? O que é um gato Jelical?”
CATS: Acto I, Cena 1 - Abertura...
Cenário da lixeira do Cats em Lisboa a 28 de Outubro
“Meia-noite. Nem um som na rua. De repente, uma explosão de música e luzes revelam uma lixeira enorme.”
As luzes apagam-se. Os primeiros acordes soam. Automaticamente, o meu corpo fica com pele de galinha. Pequenas luzes piscam. Cintilantes, tal qual as estrelas que no céu vão aparecendo com o cair da noite. Música latejante, serena de início mas ganhando energia à medida que os seus crescendos vão soando. A música acompanha as luzes que vão cintilando aqui e ali... É criada uma nova atmosfera e somos transportados até um novo mundo. À nossa frente já não existe um palco, mas sim uma lixeira enorme...
Mas... o que é aquilo? De repente vê-se uma flashada de luz a mover-se, sentimos uma patada amigável no braço... eu dou um salto e um grito abafado! Viro-me e... será possível?! Estou mesmo a ver uns olhos de gato a mirar-me no escuro?! Com leveza e delicadeza, avança até ficar frente a frente comigo. Faz uma pausa e fica a observar-me com um sorriso atrevido: um exemplar perfeito de felinidade extrovertida...
O gato fica ali parado a observar-me durante um momento, a cabeça inclinada inquisitivamente, uns grandes olhos e um narizito que se arrebita a farejar a peça humana à sua frente, como quem pensa “hmmm... mas o que é isto?” Olha novamente, e depois foge para apanhar mais umas vítimas desprevenidas, umas filas mais à frente1.
Depois de umas risadinhas, olho à volta, e vários gatos andam de um lado para o outro na audiência. No palco, alguns gatos dão patadinhas amigáveis uns aos outro; outros erguem-se para sentir o cheiro destes humanos que lhes invadiram o território. Outros ainda olham atentamente, aparentemente fascinados pelas pessoas sentadas à sua volta.
Finalmente, todos os gatos conseguem esgueirar-se até ao palco à medida que os crescendos da música atigem o seu auge. E de repente... faz-se silêncio... e todos os gatos desaparecem... A sala escurece... O silêncio e a escuridão está de volta...
O palco do Coliseu dos Recreios está prestes a encher-se de felinos nesta noite mágica e única em que a tribo Jelical se reúne para escolher o felino que terá o privilégio de poder renascer para uma nova vida.
1 7 de Outubro de 2006: apanhei um susto de morte quando no meio da escuridão uns olhos enormes e luminosos me encontraram e fitaram os meus: era um tom (gato) ou uma queen (gata).
28 de Outubro de 2006: apesar de estar a contar que os gatos viessem, acabei na mesma por me assustar... é que agora eles apanharam-me a mim e à minha mãe de todos os lados: uns vinham pela direita, outros pela esquerda e um que vinha pelo corredor do meio resolveu juntar-se a estes dois... quando demos por ela, tínhamos 3 gatos a dar-nos flashadas e a tirarem-nos as medidas!
Sábado, 7 de Outubro de 2006 – 16:00
Saímos do Porto às 10 e 30 da manhã para chegarmos a Lisboa, conseguirmos almoçar nas calmas e ainda termos tempo suficiente para nos dirigirmos ao Coliseu dos Recreios que leva à cena o musical de Andrew Lloyd Webber, que a Really Useful Group (trupe Britânica) trouxe a Portugal: o CATS. É a segunda vez que o espectáculo foi apresentado em Portugal (a primeira em 2004), mas apenas desta vez consegui ir vê-lo, e apesar de também ter vindo ao Coliseu do Porto, quis o destino que apenas conseguisse vê-lo em Lisboa...
Depois de ver o Rei Leão na Broadway (3 vezes), e desde a desilusão do Mamma Mia, não tinha muitas expectativas em relação ao Cats, apesar de realmente o querer ver. Porém, nos dias que antecederam o espectáculo, vimos o DVD em... 3 dias (!!!) já que era uma seca autêntica! Durante a viagem eu só pensava... mais valia vendermos os bilhetes... e sei que a minha mãe pensava mais ao menos o mesmo...
Sábado, 28 de Outubro de 2006 – 21:30
Mas... o CATS, desde o início prendeu e não foi pouco: até hoje ainda me ronrona suavemente nos ouvidos dia e noite... Miau! Purrrrrfect… Daí ter voltado novamente a Lisboa para ver o último espectáculo que estes gatos maravilhosos deram em Portugal.
Durante as próximas postagens vou relatar o que vi, como vi, como interpretei e o que aprendi nas duas sessões a que assisti. Durante os dois espectáculos tive experiências felinas, as quais vou relatar aqui também, em rodapé.
Na primeira vez, fui com a minha mãe e uma amiga minha, a Iva. Apesar de termos ficado no meio da plateia, achámos os nossos lugares simplesmente perfeitos (o meu era o K 21)! Logicamente o CATS também...
Para a última apresentação, conseguimos arranjar, na mesma fila, uns lugares estratégicos: mesmo em frente às escadas por onde os gatos subiam e desciam e à beira de uma porta que eles também usavam (fiquei no A 21 desta vez). Cabeças à frente! Desta vez só se fossem mesmo as dos gatitos!
Eu e a minha mãe conseguimos finalmente (à última da hora) arrastar o meu pai que apesar de ter gostado do espectáculo, me desiludiu um bocado pois pensei que ele iria ficar mais entusiasmado, embora me pareça que ele se tem entusiasmado cada vez mais há medida que o tempo vai passando.
A experiência de ambas as actuações foi... delirante! Mas da segunda vez já vi com outros olhos e cantei com outra alma. Parece-me que a mudança de actores necessária para este espectáculo não poderia ter vindo em melhor altura, já que o novo membro permitiu um final em grande a esta digressão, com mais vida, destreza e... uma voz que lhe vinha do fundo da alma[1]!
Costuma-se dizer que o vinho do Porto melhora com o passar dos anos... pois bem, creio que o mesmo se passa com o CATS: já lá vão cerca de 25 anos desde a primeira actuação, e pelo que tenho vindo a ver... tem envelhecido bem melhor que o vinho do Porto!
[1] A 7 de Outubro de 2006 o cast não teve alteração, mas a 28 de Outubro de 2006, a personagem de Quaxo/Mr. Mistoffelees foi representada por um actor incrivelmente à altura daquele gato mágico: Jean-Claude Pelletier. A meu ver, JC portou-se muito melhor do que o actor que normalmente interpretava esta personagem... Um erro de casting, digo eu!?
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